
Futebol
"Apita o árbitro. Termina o jogo! O Pacajus Esporte Clube conseguiu o acesso à primeira divisão e estará na elite do futebol cearense em 2020. Pode comemorar, torcedor pacajuense! Parabéns aos atletas, à comissão técnica e à diretoria do Cacique do Vale do Caju!"
Este trecho da narração do último jogo do Pacajus na Série B do Campeonato Cearense deste ano resume bem o momento futebolístico da cidade. Pela primeira vez, o time irá disputar a primeira divisão do certame estadual. Feito que evidencia o crescimento não só da equipe profissional, mas da liga esportiva do município. Após anos de incerteza e descontinuidade, o esporte pacajuense demonstra força e parece acompanhar o desenvolvimento econômico da cidade.
Pela ascensão do Pacajus Esporte Clube e expansão da liga desportiva pacajuense, este trabalho dedica um espaço para destacar os principais aspectos da conquista da equipe profissional da cidade, desde o surgimento do time até o acesso à Série A cearense.
Caçula na elite, Pacajus enfrenta sete equipes e folha reduzida para permanecer na Série A cearense
Cacique do Vale do Caju tem presença inédita na primeira divisão
O que para muitos, em 2009, quando voltou às atividades profissionais após nove anos, era impossível, o Pacajus Esporte Clube fez acontecer dez anos anos mais tarde: o acesso à primeira divisão em 2020. Nunca uma flechada do Cacique do Vale do Caju foi tão longe no futebol cearense. Pela primeira vez em sua história, o time comandado por Júnior Cearense irá disputar a Série A do estadual.
A conquista da equipe pacajuense reescreve a letra da música de Roberto Carlos, pois, além do Horizonte, tem sempre um Pacajus - geograficamente, Pacajus surge depois do município de Horizonte - para brilhar na Série A. E foi assim, com um clima de muita ousadia e alegria que o clube conseguiu subir. Enfrentando cada adversário, avançando fase por fase, sempre com o apoio e a torcida dos cidadãos pacajuenses que, mesmo sem o título da segundona, testemunham a melhor fase do esporte local.
Os anos de inatividade e a nova retomada, em 2017, fizeram Cristiano Cortez, presidente do time, analisar o futebol sob o aspecto do profissionalismo. Este foi o fator determinante para a subida do Pacajus. "Deixou de ser passional, hoje em dia, se não houver planejamento, as equipes fecham as portas. Eu não posso gastar R$ 101 se eu só tenho R$ 100. Gasto, no máximo, R$ 95. É muito simples", considera. A manutenção de um time vai além dos resultados dentro de campo, o sucesso vai do pagamento da folha salarial até a gasolina do ônibus que leva o elenco para os jogos.
Com isso, os patrocínios de empresas e o apoio da gestão municipal são essenciais para a continuidade de um trabalho. Segundo Cortez, mesmo após a conquista da terceira divisão estadual, a falta de investimentos fez a equipe pacajuense sair de cena por duas vezes: de 2000 a 2009 e de 2009 a 2017. "A prefeitura é o nosso carro-chefe. 90% dos investimentos vêm dela. Sobram 10% para as empresas e outros apoiadores. Alguns amigos também nos ajudam com o que é possível", ressalta.
Pães, polpas para suco e garrafões de água de 20 litros são alguns dos auxílios angariados pelo time, que também conta com a parceria de profissionais que estão iniciando suas carreiras. Como o analista de desempenho dos atletas, por exemplo, que recebe uma ajuda de custo e projeção no mercado.
Filiados à Federação Cearense de Futebol (FCF), os clubes que disputam as competições chanceladas pela entidade têm compromissos a serem cumpridos. Na visão do dirigente, engana-se quem pensa que os times recebem dinheiro da federação, já que são eles que "bancam" os campeonatos. De acordo com Cortez, neste caso, a principal função do órgão é intermediar as negociações dos clubes com as emissoras para a aquisição de direitos para a transmissão de jogos.
Outro problema enfrentado por times de menor porte no futebol cearense é a incerteza no calendário de competições. O planejamento é constantemente interrompido. Enquanto no primeiro semestre as disputas do Campeonato Cearense são intensas e o elenco tem 30 jogadores, na segunda metade do ano, apenas um ou dois atletas da base permanecem para a temporada seguinte.
Aldeia pronta
Inaugurado em 1986, o Estádio Municipal João Ronaldo Matias é a toca do Cacique. Com todos os laudos e documentações regularizadas no Ministério Público, segundo o mandatário do time, a praça esportiva está apta a receber jogos da primeira divisão cearense, apesar da capacidade máxima ser de apenas 1.435 torcedores.
Na Série B deste ano, a equipe fez valer o mando de campo e a torcida pacajuense foi a dona da quarta melhor média de público do campeonato (296 torcedores por jogo) e do segundo melhor público (977 pacajuenses), perdendo apenas para a partida da final (1.161, no duelo entre Caucaia e o próprio Pacajus).
Metas audaciosas
O fato de ser o time mais jovem da Série A alencarina não intimida a diretoria pacajuense que traça objetivos ousados para uma equipe com pouco mais de dois anos de atividade e que estreia na competição estadual. Para Cortez, o pensamento é conquistar títulos e jogar um campeonato nacional. "O time que estamos montando é para duelar em pé de igualdade com as outras sete equipes. Temos condições de ganhar a primeira fase e nos classificarmos para a Copa do Brasil de 2021", constata.
O desafio é dificultado pelo orçamento da equipe. Com uma folha salarial de, aproximadamente, R$ 80 mil, a agremiação terá de enfrentar times com uma realidade financeira mais favorável, como o Ferroviário (campeão brasileiro em 2018). No entanto, além dos patrocínios, o Pacajus E.C. conta com as amizades futebolísticas de Cristiano. "O volante Michel, ex-Ceará, joga aqui por consideração. Ele não recebe pagamento", revela.
Lidespa e valorização do atleta da casa
A evolução do time de Pacajus teve como ponto de partida a recuperação da Liga Desportiva Pacajuense (Lidespa). Inativa há mais de dez anos, em 2002, a presidência de Erilan Barbosa foi a responsável por revitalizar a Liga e reorganizar a disputa de campeonatos profissionais e de base. Cristiano Cortez acompanhou de perto as mudanças e considera que a gestão ressuscitou a competição e o interesse do povo pacajuense nas práticas esportivas do município. Um passo importante, nesse contexto, foi a redistribuição das divisões e categorias promovidas pela Lidespa. O resultado disso foi a realização de mais de 60 campeonatos este ano.
Nos mandatos de Barbosa e de Cortez, o Campeonato Pacajuense da Primeira Divisão, em quatro ocasiões, foi escolhido o melhor certame do estado do Ceará. Mas não foi só o futebol profissional que obteve sucesso. Esportes como o futsal, basquete, karatê, taekwondo, jiu-jitsu e outras artes marciais também ganharam novamente importância no calendário esportivo da cidade.
Desse modo, não só as competições locais são fortalecidas, mas os atletas nativos também ganham oportunidades. Realidade do time de futebol, o aproveitamento de jogadores nascidos em Pacajus já rendeu à cidade notoriedade pelos profissionais que saíram do Vale do Caju para equipes de outras regiões do País. Léo Jaime, que jogou pelo Bragantino, de São Paulo, Felipe Marques, atualmente no Cuiabá e inspiração para os atletas mais jovens, e Levi, jogador que atua nas categorias de base do Palmeiras, foram alguns desses atletas que passaram pelo Pacajus Esporte Clube e ganharam projeção nacional.

O fundo do gol é a região do campo que o Pacajus mais espera visitar no ano que vem.
(Foto: Lucas Albano)

Cristiano Cortez é o cartola responsável pela contratação e pela demissão de atletas.
(Foto: Lucas Albano)
Mesmo com capacidade reduzida, o estádio tem arquibancadas conservadas.
(Foto: Lucas Albano)


A Primeira Divisão já é uma realidade.
(Foto: Lucas Albano)

As siglas da Confederação Brasileira de Futebol e da Federação Cearense de Futebol estão grafadas no banco de reservas do estádio.
(Foto: Lucas Albano)